Que a "Sôtora" me perdoe mas eu não resisti e aqui está. Obrigado pela fidelidade.
Beijinhos Eugénio Fidalgo.
Caro Eugénio
1)Não queria deixar de lhe dizer que estou abismada. Não só achei a maior das graças à sua ideia, como estou completamente rendida às suas artes informáticas. Até mostrei a página ao informático que trabalha aqui na Fundação que, pelo seu lado, também ficou espantado. Que o Eugénio era dado às artes da gastronomia e da enologia, já se sabia, agora lidar assim, tu cá tu lá, com a informática, essa foi nova, e foi demais.
2) Até me comovi ao ver o meu texto. Realmente, os anos passam e temos tão pouco tempo para lembrar as coisas simpáticas que já fizemos. Verdade, verdade, já escrevi muitos textos, e aquele, se não é uma obra prima da literatura portuguesa, é um dos que me deu mais prazer fazer. Lembro-me perfeitamente do dia, das horas esquecidas que aí estivemos a comer, primeiro, a conversar depois. Quem leia, pensa que tudo se fez num abrir e fechar de olhos, mas o Eugénio também se deve lembrar que lhe empatámos a tarde toda para tão pouco texto.
3) Os hábitos mudam, e ainda que nos mantenhamos iguais a
nós próprios, passados dez anos (ou mais) é muito difícil manter o ritmo de saídas e
de noitadas, sobretudo quando as responsabilidades crescem e o ponteiro
do despertador passa a ser implacável, cinco dias por semana, com as sete da manhã (...e
ainda se o dia acabasse cedo, mas não acaba, e logo de seguida o despertador toca e
recomeça tudo de novo)!
4) De qualquer forma, há sítios que são muito mais do que simples espaços físicos. A mesa onde lhe peço sempre para me sentar, para mim, há-de toda a vida ser a mesa do Al Berto, o Eugénio a aconselhar-lhe o peixe grelhado que menos lhe agredisse o estômago, e ele a dizer coisas como só ele sabia dizer com aqueles olhos a sair das órbitas, como se as ideias, as imagens e as gargalhadas fossem tantas que não lhe coubessem no espaço limitado que é o de uma cabeça humana.
5) Muitas das coisas boas de que me recordo passaram-se no seu restaurante. Conversas, alguns copos, e muitas gargalhadas, alguma mal-dissência, novos amigos, amores e desamores e o Eugénio ao leme, a contar coisas, e nós a responder: "Que sim senhor arquitecto", outros dias, "que não senhor engenheiro".
6) Há espaços assim. Espaços que são muito mais do que o conjunto do que dentro de quatro paredes se alinha. E o "Fidalgo" foi sempre isso para mim. Penso sempre que Fiel é uma comida para cães, e que a fidelidade não se mede nas presenças diárias seja lá onde for. A fidelidade é uma coisa de coração e o "Fidalgo" está dentro do meu. E para sempre. Obrigada por isso, e por manter aquele espaço - que eu também acho um bocadinho meu -, fiel a si próprio, guardando tantas histórias.
Obrigada.
Helena Amaral