In Revista Barata de Outubro, Novembro, Dezembro de 1992
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LGUMAS CEIAS DE NATAL Se não vai passar a noite de Natal com a família e quer jantar num restaurante qualquer da cidade de Lisboa, vai ter muito trabalho para encontrar um, ao menos um, que tenha as suas portas abertas e que lhe possa servir uma refeição. O Restaurante Fidalgo abriu aqui há uns anos na noite de 24 de Dezembro mas os resultados não foram famosos. Por junto, teve dois clientes, e o dono deste restaurante diz-nos que foi uma noite tristíssima. Assim, parece que não há ninguém que ouse quebrar a tradição oferecendo ao público em geral uma alternativa às ceias familiares onde, quase obrigatoriamente, se comerá o bacalhau cozido, os doces, as filhós, as rabanadas, os sonhos, fazendo numa noite só toda uma gama de excessos alimentares de pôr em pé os cabelos dos nutricionistas.Mas, e se os portugueses não fossem tão tradicionalistas no que diz respeito ao Natal e resolvessem que queriam jantar fora na consoada, o que teriam os restaurantes para lhes oferecer? Escolhemos alguns restaurantes do Bairro Alto, o bairro lisboeta dos bares e dos restaurantes, especializados em tipos de cozinha de origens bastante diferentes e quisemos saber o que fariam como ementa se abrissem as suas portas na noite de consoada.
O Eugénio Fidalgo dirige um restaurante com o mesmo nome desde 1972. No liceu sonhava vir a ser engenheiro, mas o facto da sua mãe -a tia Matilde - ser uma das mais afamadas doceiras de Lisboa e ter um estabelecimento aberto há muitos e muitos anos, foi-lhe dando algumas ideias, e a escola foi ficando para trás, em favor daquele pequeno restaurante da rua da Barroca. As alterações que o Bairro Alto tem sofrido nestes últimos anos, com as constantes aberturas e encerramentos de restaurantes e bares, têm passado completamente ao lado do Fidalgo que continua a manter a mesma clientela, a mesma cozinha e o mesmo ambiente, afáveis e caseiros, desde que abriu as suas portas.O Eugénio Fidalgo conhece a maioria dos seus clientes, aliás, a maioria dos seus clientes também se conhece entre si. A decoração do restaurante é bastante simples sendo o elemento mais apelativo a garrafeira exposta em prateleiras à volta das paredes da sala. Há um sector que é dos raridades, o dos vinhos que não são nem para vender, nem para beber, e mesmo nas outras prateleiras o Eugénio diz-nos que só tem vinhos de que gosta.
Agora, o vinho branco da casa é um BorIido de 84, especialmente engarrafado para este restaurante e tem um lindíssimo rótulo desenhado pelo pintor Pedro Cabrita Reis. Era esse vinho que o Eugénio ofereceria como sugestão aos clientes que quisessem cear na sua casa na noite de Natal, a acompanhar umas Migas de Bacalhau à moda da Beira Alta.