In Casa Cláudia Maio de 1997

Sair de Casa

Marque mesa nesta antiga pastelaria do Bairro Alto, que virou restaurante tradicional. 

Onde a decoração se liga à arte de bem cozinhar.

Texto de Maria do Carmo Martins

Fotografia de Manuel Aguiar.

 

Preparado para servir Fidalgo(s).Um restaurante acolhedor no Bairro Alto que para além dos petiscos de chorar por mais tem o dom de nos fazer sentir em casa. Se não experimentou não espere para amanhã.

FIDALGO À MESA

O restaurante Fidalgo é um espaço bem conhecido no Bairro Alto. São 150 metros quadrados divididos em dois pisos acolhedores.

À entrada recebem-nos quatro mesas quadradas dispostas de cada lado com as suas toalhas brancas e as cadeiras de madeira de estofos preto. As garrafas alinhadas ao longo das paredes convivendo com os quadros de José de Lemos dão mais uma nota quente a um ambiente já de si familiar. Mesas cheias. Um senhor almoça sozinho, dois homens discutem questões de trabalho, um casal conversa em voz baixa e um grupo de amigos festejam alegremente Eugénio Fidalgo divide a atenção por todos e ainda arranja tempo para continuar a nossa conversa na mesa do canto.

"Fidalgo é nome de família. Assim se chamava o antigo café-pastelaria que existia neste mesmo espaço que pertencia ao meu pai. Ali ao lado, onde hoje é a Casa da Matilde era a mercearia."

Em 1977, o pai de Eugénio Fidalgo faleceu e este teve que optar entre seguir a sua profissão de repórter fotográfico ou ficar à frente dos negócios do pai. Preservou o negócio de família mas com algumas modificações. Assim abriu em 1972 o restaurante Fidalgo no lugar da pastelaria passando esta a funcionar no espaço da antiga mercearia. Eugénio, hoje com 38 anos, e sua mulher ----também Eugénia ---- gerem o restaurante enquanto a mãe Matilde e a irmã Isabel estão à frente da pastelaria Casa da Matilde, tão famosa pelas especialidades e sobremesas.

Na realidade, como nos revela Eugénio, é uma mesma casa com duas secções diferentes pois "a sopa é da mesma panela", visto que a cozinha é conjunta. É caso para dizer que "são dois numa manteiga só..."

Quanto ao negócio, Eugénio esclarece. " O Bairro Alto foi sempre um local de muito trabalho porque havia aqui muitos jornais, bancos e empresas. Vinham cá jornalistas e outras pessoas regularmente e o poder de compra era outro. Hoje tudo está muito mudado. Muitas das instituições que falei fecharam e as pessoas que aparecem são diferentes. O Bairro Alto é hoje um espaço privilegiado pelos profissionais de moda. Há sobretudo muitos restaurantes e bares a par de algum comércio tradicional, tascas e tabernas antigas que são cada vez em menor número. Existem ainda alguns jornais como A Bola e o Record e ainda o Conservatório. O Bairro Alto tem hoje cerca de duzentos restaurantes e não há aqui um igual ao outro. Esta concentração é benéfica, pois chama muitos clientes que são comuns aos vários restaurantes ".

O negócio propriamente é imprevisível, não possui a estabilidade de outros tempos quer no que diz respeito à assiduidade dos clientes quer no que se refere ao horário das refeições. É tal como no anúncio que diz " a tradição já não é o que era ". A única coisa que não varia é a qualidade dos pratos confeccionados e o apreço de que são alvo. Eugénio aconselha-nos a experimentar a caçarola de garoupa (caldeirada confeccionada apenas com garoupa), o arroz de favas com entrecosto, o arroz de polvo com feijão e o bife do lombo com queijo da Serra, não esquecendo os tradicionais pastéis de massa tenra com arroz e salada, tudo comida caseira e quente.

A escolha dos vinhos e sobremesas é também delicada e sua recomendação vai, desta feita para a tarte de frutos silvestres, a mousse de chocolate e o pudim.

Eugénio tenciona continuar à frente do restaurante por muitos e bons anos, aperfeiçoando cada vez mais o serviço que presta. Refere, no entanto, a sua preocupação com o estado do Bairro Alto e o desejo de que não seja descurado pela CML a fim de que se possa combater a degradação evidente de certos prédios, evitar o barulho excessivo que provoca nalgumas pessoas o receio de o visitar e ainda outras medidas visando o melhoramento geral como a limpeza mais aprofundada das ruas e a resolução de estacionamento isto para que o Bairro Alto possa funcionar verdadeiramente como um pólo cultural e uma zona típica nacional por excelência.

Restaurante Fidalgo

Rua da Barroca 27-31

1200-047 LISBOA

Telf. 213 422 900